domingo, 21 de agosto de 2011

O Reino de Deus. No céu, ou na terra?

O tema do reinado messiânico sobre a terra tem causado repulsa para alguns leitores, isso acontece devido ao ensinamento tradicional da morada no céu que permeia a mentalidade cristã, e que contrasta com este ensinamento. Sendo assim, já com as mentes cristalizadas muitos resistem a estudar e acima de tudo em aceitar essa maravilhosa realidade bíblica.

No entanto, o ensinamento sobre o reino milenar do Messias sobre a terra não é um tema novo, remonta desde os dias bíblicos, antes mesmo da era cristã. Contudo, os defensores da morada no céu argumentam que só se consegue explicar a doutrina do reinado milenar sobre a terra baseado em textos bíblicos isolados. Percebe-se, porém através dos relatos bíblicos, que isso não é uma realidade, não passa de desculpas de pessoas que querem fazer prevalecer os seus ensinamentos.

Creio que o mesmo argumento deve ser usado para inquirir como se conseguem estabelecer a doutrina da morada no céu, não seria também um sequestro dos textos bíblicos do seu contexto? Ou melhor, quais os textos bíblicos que comprovadamente ensinam sobre a morada no céu?Analisaremos alguns textos sobre a morada no céu, ou que são erroneamente utilizados para sustentar tal doutrina. Mc. 10: 21; E Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me.

Faz-se necessário duas perguntas: ter um tesouro no céu, significa possuir tal tesouro no céu mesmo? Ou é uma forma de declarar a “recompensa” resultante do altruísmo do jovem rico? O fato de distribuir a sua e riqueza aos pobres, o individuo seria galardoado com uma riqueza eterna no reino de Deus, [reino no céu significa durabilidade em contraste com a efemeridade das riquezas humanas.] Tanto é assim que o próprio Jesus disse no verso 23 que dificilmente os que possuem riquezas e põe o seu coração na mesma entrarão no reino de Deus. Mt. 6: 19-21; Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.

Longe de fortalecer a doutrina da morada no céu este verso não apoia tal idéia como também esclarece o verso anterior. De que forma podemos acumular tesouros no céu? Naturalmente Jesus utilizou aqui de uma linguagem figurada, o acumular tesouro no céu é na realidade priorizar, ter em maior estima o reino de Deus ao invés do reino dos homens. Jo. 14: 2-3; Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.

Algumas citações interessantes: (1) Jesus não disse que os levaria para o céu, é pura dedução teológica pelo fato de Jesus ter subido ao céu. (2) algumas traduções dizem onde eu estou, significa que após o seu retorno os discípulos estarão em Jerusalém com Jesus? pois é ali que eles estavam. (3) Outras traduções dizem, onde eu estiver... Dá no mesmo, continua indefinido o lugar, o verso por si só não prova nada. A idéia de ir para o céu após a morte, ou mesmo em ocasião futura entra em choque com o verso de apocalipse 21: 3; Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles .

Encontramos neste verso ao menos três questões que são obstáculos para a doutrina da morada no céu, examinaremos as palavras grafadas e são elas: Eis, do Grego Idou que significa: veja! olhe! repare! Denotando uma novidade. Não seria novidade nenhuma para os salvos no céu. A segunda é habitará, se olharmos do ponto de vista do nosso idioma significa que Deus estará conosco e consequentemente nós com ele somente após a descida da nova Jerusalém, o que é uma realidade, pois habitará está no futuro. No Grego esta palavra é Skenoo que quer dizer: fixar, permanecer, residir em um tabernáculo. A terceira do ponto de vista do Português, também está no futuro, no original é esomai do verbo “estar”.

Outro verso utilizado se encontra em Fl. 3: 20; Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Utilizar este verso para provar a morada no céu é forçar a interpretação bíblica, Paulo está primeiramente contrapondo o modelo de muitos que se diziam cristãos, mas que na realidade eram tremendamente mundanos. Outro fato é que o verso por si só nos leva a compreendermos que (1) o modelo do reino vindouro é celestial, ou seja diferente do que conhecemos atualmente, (2) ...também aguardamos o Salvador... A palavra “também”pressupõe que, assim como aguardamos o Messias, devemos aguardar a pátria, o modelo o reino ou mesmo a nova Jerusalém.

O ensinamento puro e bíblico nos mostra que Jesus veio cumprir tudo que foi declarado pela lei e os profetas, Lc. 24: 44; A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Jesus disse ...tudo o que de mim está escrito... A profecia do servo sofredor, simbolizando o cordeiro de Deus, se cumpriu exatamente como disseram os profetas, naturalmente devemos esperar que a profecia do Jesus assentado sobre o trono de Davi se cumpra, pois assim declararam os profetas, 2ª Sm. 7: 12-16; Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; se vier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de homens e com açoites de filhos de homens. Mas a minha misericórdia se não apartará dele, como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti. Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre.

Os defensores do reino “no céu” dirão: “este texto deve ser aplicado aos dias de Davi, ele fala imediatamente de Salomão, não do Messias.” É uma realidade, porém a profecia bíblica teve um começo uma promessa e portanto vários protagonizadores até o Cristo, é a ordem natural. 1ª Cr. 17: 14; Mas o confirmarei na minha casa e no meu reino para sempre, e o seu trono será estabelecido para sempre. A palavra sempre desse verso é olam e quer dizer: longa duração, para sempre, etc. Mediante isso cabe uma pergunta: falhou Deus em cumprir a sua promessa? Foi condicional como afirmam os adventistas?

Vejamos: Sl. 89: 3-4; Fiz aliança com o meu escolhido e jurei a Davi, meu servo: Para sempre estabelecerei a tua posteridade e firmarei o teu trono de geração em geração. Reparem que Deus fez uma aliança, e não diz que ela seria condicional. Sl. 89: 35-37; Uma vez jurei por minha santidade (e serei eu falso a Davi?): A sua posteridade durará para sempre, e o seu trono, como o sol perante mim. Ele será estabelecido para sempre como a lua e fiel como a testemunha no espaço. O sol e a lua deixaram de existir? Se eles são utilizados nestes versos como sinal de fidelidade ao cumprimento da aliança entre Deus e Davi, como a aliança pode ter sido condicional?

Quando Cristo nasceu Israel já se encontrava sem rei, isso se deu devido a transgressão dos líderes e consequentemente do povo, o resultado foi o cativeiro e a deposição dos monarcas. Esta seria a oportunidade para que as promessas feitas a Davi pudessem ter sido anuladas. Lc. 1: 31-33; Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. A promessa e a profecia de que alguém se assentaria sobre o trono de Davi estavam cumpridas, e rejeitar este fato é rejeitar os escritos bíblicos.

Percebemos então que vários homens se assentaram sobre o trono de Davi, mas não foram o Messias. Nós cristãos acreditamos que o anjo falou literalmente com Maria, mãe de Jesus. Para os que crêem numa morada no céu, estaria o anjo equivocado? Pois, ele disse com relação a Jesus: ...e o Senhor lhe dará o trono de Davi... Sabemos que Davi reinou na terra e não no céu. Baseado nas promessas e nos escritos dos profetas o que esperavam os judeus nos dias de Cristo? At. 1: 6-7; Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor será este o tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade. Notem que ao indagar sobre a restauração do reino a Israel, Jesus não mencionou que os seus discípulos estavam equivocados quanto ao local e a restauração, apenas disse que tal acontecimento daria em ocasião determinada por Deus.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

E o diabo? Parte 3.

Os Setenta traduziram o verbo stn por endiabállô em grego; que significa caluniar nas línguas vernáculas, (própria do país de origem) (e o substantivo Satã os Setenta traduziram por Diábolos, que significa caluniador). O termo Satã, e satanizar, tão freqüente no Antigo Testamento, são substituídos algumas vezes na tradução grega dos Setenta pelo termo Ho Diábolos (o Diabo), e na forma verbal pelo termo endiabállô (ao pé da letra haveria que traduzi-lo por "endiabrar"). Diabo e Satã, ou Satanás, são sinônimos.
O substantivo Satã ou Diabo, além das 15 vezes que aparece no Antigo Testamento e mais 6 vezes na forma verbal no Novo Testamento, Satanás aparece 37 vezes. Diabo, ou Diábolos, não procede de diáxo (= despedaçar) como afirma a Enciclopédia Britânica, senão de diabállô, isto é, bállô = arrojar, com o prefixo diá = através de: Expulsar através de. O verbo diabállô e o substantivo diábolos passaram a significar, substituindo o efeito pela causa, a ação e a pessoa que apresenta cargos com intento hostil, falsa ou caluniosamente (para "arrojar", "expulsar", "derrubar" alguém). Hostilidade é este o significado que corresponde à palavra hebraica Satã.
A escolha da palavra Diabo para substituir a palavra Satã na tradução dos Setenta é alusão à lenda da queda dos anjos rebeldes. Qual cristão não aprendeu que antes da criação do mundo houve uma guerra de anjos rebeldes, capitaneados por Lúcifer, sendo derrotados pelos anjos bons, capitaneados por Miguel, e sendo então os rebeldes arrojados do Céu? Milton escreveu um drama impressionante no seu livro Paraíso Perdido. Tudo lenda.
No judaísmo tardio circulavam lendas a esse respeito. A lenda da queda dos anjos foi introduzida pelo Livro de Noé, perdido. Este livro de lendas, para dar prestigio a coletânea, foi atribuído nada menos que ao Patriarca Noé. Na realidade este livro é do século II a.C. Os judeus estavam rodeados de povos cujas mitologias falavam de guerras de deuses. Mas, eles pensaram: Como pode haver guerras de deuses, se só existe um Deus? E o Livro de Noé transformou a guerra de deuses em guerra de anjos.
Livro de Henoque. O mito da guerra dos deuses, diretamente emprestado dos cananeus, concretizou-se numa outra coletânea de lendas, o Livro de Enoque, descoberto na Etiópia em 1773. Consta de 108 capítulos, redigidos originariamente em aramaico, e talvez em parte em hebraico, mas na época do descobrimento só se encontraram cópias em etíope. Encontrou-se nada menos que 26 cópias, porque a Igreja etíope antiga considerava, erradamente, esse apócrifo como canônico, como pertencente à Bíblia. É conhecido como Primeiro Livro de Enoque (1Hn) ou então como Enoque Etíope (Hn-et).
Hoje já possuímos fragmentos em hebraico e, mormente em aramaico, encontrados em Qumran, nas cavernas dos antigos essênios junto ao Mar Morto. Não tem unidade. É mais uma coleção de peças de diversas origens e antigüidades, compiladas entre o século II e primeiras décadas do século I a.C. Segundo os primeiros 36 capítulos do Livro de Enoque 200 anjos guardiães, sob o comando de Semyasa decidiram engendrar filhos com as mulheres da nossa Terra. Cada guardião comportadamente tomou uma só esposa. Essas duzentas mulheres geraram 3.000 gigantes. Segundo o Livro de Enoque, os anjos guardiães teriam ensinado aos terráqueos a fabricação de armas, a produção de cosméticos, à adivinhação pelos astros e a feitiçaria. Mas aconteceu que os gigantes começaram a devorar homens... E os homens, aterrados, clamaram a Deus.
O Altíssimo envia então o anjo Uriel para prevenir Noé do dilúvio com que planeja matar os gigantes; e para reprimir Semyasa, Azazel e demais anjos guardiães, envia Miguel. As milícias de guardiães e seus chefes foram vencidos pelas milícias de Miguel, e ficaram acorrentados em grutas subterrâneas durante 70 gerações. Setenta gerações, significa por tempo incalculável. Expressamente se diz: "até o dia do Grande Julgamento (até o fim do mundo), quando serão lançados, junto com os homens maus, às masmorras de fogo". Estes demônios não molestam mais! Os espíritos dos gigantes mortos no dilúvio, segundo o Livro de Henoc, percorrem continuamente toda a Terra, fazendo mal aos homens. Também estes demônios serão condenados, mas só no dia do Juízo Final.
O Primeiro Livro de Enoque alcançou grande prestígio no judaísmo da época de Cristo. Era conhecido pelos escritores do Novo Testamento, e muitos “Pais” e Escritores Eclesiásticos, erradamente o tinham como inspirado tal como os livros canônicos da Bíblia. Queda de anjos? A origem lendária da queda de anjos rebeldes fica assim muito clara. Igualmente fica clara a origem da crença em demônios que atormentam os homens. Depois os cristãos simplificaram e concretizaram. Simplificaram estritamente isso, guerra de anjos; e concretizaram dizendo que os anjos rebeldes foram capitaneados por Lúcifer, e os bons capitaneados por Miguel. Tiraram todos os outros enfeites mitológicos.
Alusões neotestamentárias. No Novo Testamento encontram-se duas alusões, e provavelmente só duas, à lenda dos anjos rebeldes. Judas: {Os anjos que não conservaram o seu principado, mas abandonaram a sua morada, guardou-os presos em cadeias eternas, sob as trevas, para o juízo do Grande Dia} Jd. 6. E Pedro: {Deus não poupou os anjos que pecaram, mas lançou-os nos abismos tenebrosos do Tártaro, onde estão guardados à espera do Juízo} 2ª Pe. 2: 4. Alusões ao mito. Instrumento de linguagem para Revelar a justiça e no fim o perdão por Deus a quem se arrepender. Seria significativo em ambos os textos, porém se tomar-mos ao pé da letra: os demônios não molestam mais, estão em cadeias eternas, guardados presos nos abismos tenebrosos.
Mt. 25: 41; Quando Cristo fala do fogo preparado para o Diabo e seus anjos, está também aludindo à lenda da queda? Talvez. Mas de acordo com outros textos do novo testamento 1ª Co. 5: 5; 1ª Tm 1: 20 e 3: 6; e extra bíblicos (1Hn 63,3; Documento de Damasco 8,2) em todo caso esta indicando meramente o castigo dos homens pecadores = servidores do Diabo. Igualmente: Segundo o Apocalipse os anjos e seu chefe Miguel, após rude combate, precipitaram sobre a Terra "o grande Dragão, a antiga Serpente, o chamado Diabo, ou Satanás, Sedutor" e seus anjos Ap. 12: 7-11. Na realidade não se ratifica ou Revela a queda dos anjos, senão que se simboliza a vitória da Redenção contra as dificuldades dos cristãos. "O acusador dos nossos irmãos" teria algo que ver com o milenar conceito do Diabo, ele fica "dia e noite diante do nosso Deus"? Ap. 12: 10. Todo o capítulo é enormemente alegórico e seria simplismo interpretá-lo como Revelação de uma real batalha e queda de anjos! A "luta dos anjos" no Apocalipse refere-se ao presente e futuro do cristianismo, não a um longínquo passado, antes da criação da humanidade. O Apocalipse é "o livro da profecia", descreve o futuro do cristianismo.
Como é possível que os "defensores dos demônios" não saibam nem sequer isto? Ap. 1: 1- Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Tentação, de onde vem?

Todos nós vemos, ouvimos, ou de alguma forma presenciamos a corrupção generalizada que se abate sobre a terra. Por vezes perguntamos: quando é que Jesus irá estabelecer o seu reino de justiça e paz sobre a terra? Infelizmente não possuímos o dom de prever o futuro, e conseqüentemente, desconhecemos os tempos e as estações determinadas por Deus. O fato é que o reino de Deus com a regência do Messias Jesus, será uma realidade.

Porém a questão principal que deve nos incomodar não é a época da implantação do reino, mas sim estar, ser participante do reino. Pensando nisso me reportei para Mateus 18: 3. (Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus.) Temos aqui ao menos três questões interessantes. Conversão, agir como crianças, a terceira depende dessas duas, ou seja entrar no reino dos céus, (reparem, reino dos céus, não reino nos céus.)

A segunda questão é consequencia da primeira “se tornar como crianças” nada mais é do que ter o sentimento a atitude a ingenuidade e a sinceridade de uma criança. Isso é resultado da conversão a ação do espírito de Deus em nossas vidas, não existe outro meio ou possibilidades. Quando penso nestas palavras de Jesus me vem a mente uma questão interessante: quão difícil é ter uma atitude de uma criança, isso contrastando apenas com a nossa natureza caída, imaginem então se além de subjugar as nossas tendências tivermos que vencer também um ser espiritual infinitamente superior aos humanos?

Baseado nas palavras imperativas de Jesus, de que se não nos convertemos não seremos participantes do reino, creio que se tivermos um inimigo espiritual temido como um “deus”, o nosso caso será catastrófico. Será mesmo que a bíblia cita algum inimigo espiritual do homem, além de sua própria natureza caída? Gn. 6: 5. (E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente.) Jr. 17: 9. (Enganoso é o coração, mais do que todas as cousas, e perverso: quem o conhecerá?) Nestes dois versos percebemos que a maldade que se multiplicou sobre a terra era conseqüência da maldade do coração humano, e que a maldade procede do homem, nada, além disso. E Jeremias nos diz que o coração humano não só engana como também é perverso, como pode o engano que procede do “coração” humano ser atribuído a satanás, um anjo caído?

Jesus disse que os maus desígnios procedem do próprio homem, Mt. 15: 18-19; (Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.) Jesus não disse que toda a sorte de mazelas procede de um ser diabólico, que influencia o ser humano, mas que a fonte dos maus desígnos é o próprio homem, ou sua natureza caída. Nós entendemos por tentação tudo aquilo que nos leva de encontro com a vontade de Deus. O interessante que em lugar nenhum a bíblia diz que o pecado é consequência da tentação de um ser espiritual, ou de anjo caído. Pelo contrário, diz que tais acontecimentos procede diretamente do homem. Tg. 4: 1; (De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne?)

Naturalmente não devemos entender como sendo somente esses tipos de pecado, mas sim todos. Gl. 5: 17; (Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.) Reparem aqui que a tendência para o pecado brota de dentro do homem, não de fora. Procede da carne. Manifestamente, Jesus e os apóstolos não nos ensinam a lutar contra poderes sobrenaturais, mas a dominar o que nasce no coração humano, a vencermos a nós mesmo libertando-nos das nossas paixões, a fomentar nossa tendência a Deus em busca da perfeição. Esta é a nota tônica do evangelho (arrependimento e conversão) é a base do reino de Deus.

A lista das obras que procedem da carne que nos apresenta o apostolo Paulo é fruto da tentação proveniente do diabo? A bíblia não diz isso, vemos vários textos que nos mostram que tais procedimentos são provenientes do próprio homem. Gl. 5: 19-21; (Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria,feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.) Reparem obras da carne. Rm. 5: 12; (Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.) percebam que a bíblia insiste em dizer que o pecado entrou no mundo por causa do homem, ou seja, o único responsável pelo pecado foi o homem, ninguém mais.

Muitos dirão: sim entrou por causa do homem, mas este último foi influenciado por satanás. Esta é uma afirmação sem base bíblica, se pensarmos assim, seremos obrigados a acrediatar que alguém influenciou satanás para que ele pudesse pecar, algo absurdo. O fato é que a doutrina da tentação humana só ganhou força devido a influencia dos pais da igreja, infelizmente eles viveram em uma época onde o pensamento sobre a existência do diabo como um ser espiritual era predominante. “O homem sozinho não era responsável pelas tentações que se abatem sobre ele, o homem seria o campo de luta entre o príncipe do bem e o espírito do mal, o Anjo de luz e o Anjo das trevas, que queriam ser donos por direito de posse, da alma humana”. Este conceito qunraniano (Qunran) parecia refletir-se na epístola de Barnabé, e certamente no Pastor de Hermas, século II dC. Neles se funamentata Orígines. (Pastor de hermas 6º preceito.) Vários outros líderes cristãos dos primeiros séculos compartilhavam o mesmo pensamento e ensinamento, devemos censurá-los por isso? De maneira nenhuma, pelo fato de terem vivido sobre a influencia demonológica dos primeiros séculos.

Muitos cristãos irão argumentar dizendo: mas, o próprio Jesus não disse que Pedro estava sendo usado por satanás com o objetivo de tenta-lo? Mt. 16: 23; (Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens.) Percebemos dois fatos interessantes neste verso, Jesus disse que Pedro pensava muito nas coisas dos homens, não disse que Pedro foi usado pelo diabo, fato é que satanás aqui representa alguém que se opõe a outro em propósito ou ação, não um ser espiritual. O simples fato de pensar que é a ação de um ser espiritual é devido ao ensinamento tradicional que está cristalizado nas mentes de muitos. Com relação as tentações, Paulo nos informa que o pecado que habita em nós é que impulsiona as tentações. Rm. 7: 16-21; (Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.) Notem que Paulo não menciona que seja satanás o causador das tentações, ele diz simplesmente que é o pecado, ou a natureza caída.

Ainda falando sobre a tentação Paulo conforta todos aqueles que esperam na implantação do reino de nosso Senhor Jesus Cristo, falando sobre a nossa caminhada espiritual ele diz que não devemos nos preocupar com outro inimigo além da nossa própria natureza pecaminosa, 1ª Co. 10: 13; (Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.) Naturalmente nós compreendemos que tentação humana é o que todos sofremos, ao passo que tentação não humana ou sobre humana em outras traduções, refere-se a um tipo de tentação que não brota da mente, ou mais especificamente espiritual, sendo assim como explicar as investidas de satanás? Reparem que o texto continua dizendo que Deus não permitirá que sejamos tentados além das nossas forças. Naturalmente um ser espiritual nos importunaria muito além de nossas forças.