domingo, 16 de abril de 2017

Seria o domingo a marca da besta?

Acredito que as profecias bíblicas principalmente aquelas encontradas no livro do apocalipse, na sua grande maioria não tiveram a sua total conclusão, assim sendo me enquadro entre aqueles que acreditam que o cumprimento bíblico profético como sendo histórico e progressivo no que diz respeito aos acontecimentos. Neste blog é possível encontrar assuntos relacionados, porém não acredito que este assunto possa ser esgotado ou mesmo solucionado no momento presente. E por acreditar que o assunto marca da besta esteja no futuro sinto a necessidade de pesquisá-lo, existem várias interpretações utilizadas pelas denominações religiosas, com o objetivo de decifrar a marca da besta e entre elas destaco a interpretação dada e ensinada pela igreja adventista do 7º dia.

A igreja adventista do 7º baseada nas declarações de sua profetiza Ellen G. White, ensina por meio de suas publicações de que a marca da besta será posta naqueles que rejeitarem o mandamento do sábado; eis algumas declarações da própria E.G.W. “O selo de Deus jamais será colocado à testa de um homem ou mulher impuros. Jamais será colocado à testa de um homem ou mulher cobiçosos ou amantes do mundo. Jamais será colocado à testa de homens ou mulheres de língua falsa ou coração enganoso. Todos os que recebem o selo devem ser imaculados diante de Deus”. Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 71.

“O primeiro dia da semana. A observância desse dia é o sinal da besta.” Testemunhos Para Ministros, pág. 133. “O sinal da besta é o dia de repouso papal.” Evangelismo, pág. 234. “O sinal, ou selo, de Deus é revelado na observância do sábado do sétimo dia - o memorial divino da criação. ...A marca da besta é o oposto disso - a observância do primeiro dia da semana.”  Testemunhos Seletos, vol. 3, pág. 232.

“Ao rejeitarem os homens a instituição que Deus declarou ser o sinal de Sua autoridade, e honrarem em seu lugar a que Roma escolheu como sinal de sua supremacia, aceitarão, de fato, o sinal de fidelidade para com Roma - "o sinal da besta". E somente depois que esta situação esteja assim plenamente exposta perante o povo, e este seja levado a optar entre os mandamentos de Deus e os dos homens, é que, então, aqueles que continuam a transgredir hão de receber "o sinal da besta". O Grande Conflito, pág. 449.

O verso bíblico mais utilizado pelos adventistas para tentar dar suporte a este ensinamento se encontra em Ez. 20. 20 Santificai os meus sábados, pois servirão de sinal entre mim e vós, para que saibais que eu sou o Senhor, vosso Deus. Assim sendo para os adventistas, quando o verso diz que o sábado serviria de sinal entre Deus e o povo argumentam que isso significa Deus marcando ou selando o seu povo. Essa premissa pode ser validada? Bem, para isso será necessário analisarmos ao menos dois fatores: (contexto e época).

Se abrirmos a bíblia em Ezequiel capítulo 20 veremos que o contexto está relacionado à trajetória dos judeus desde o êxodo, naqueles dias do cativeiro o povo foi ter com Ezequiel a fim de que ele consultasse a Deus, Ez. 20. 2-3Então, veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, fala aos anciãos de Israel e dize-lhes: Assim diz o Senhor Deus: Acaso, viestes consultar-me? Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, vós não me consultareis.”

E o capítulo continua sua narrativa... Ez. 20. 6-7 Naquele dia, levantei-lhes a mão e jurei tirá-los da terra do Egito para uma terra que lhes tinha previsto, a qual mana leite e mel, coroa de todas as terras. Então, lhes disse: Cada um lance de si as abominações de que se agradam os seus olhos, e não vos contamineis com os ídolos do Egito; eu sou o Senhor, vosso Deus.”

Percebe-se claramente a quem estão sendo dirigidas as palavras, sim exato, para os judeus que estão no cativeiro babilônico juntamente com o profeta Ezequiel. Eles estão ouvindo uma narrativa daquilo que aconteceu com os seus pais, Ez. 20. 10-12 “Tirei-os da terra do Egito e os levei para o deserto. Dei-lhes os meus estatutos e lhes fiz conhecer os meus juízos, os quais, cumprindo-os o homem, viverá por eles. Também lhes dei os meus sábados, para servirem de sinal entre mim e eles, para que soubessem que eu sou o Senhor que os santifica.”

Aqui percebemos três questões importantes, “tirei-os da terra do Egito” comprovadamente está se referindo aos judeus, “os quais cumprindo-os viverá por eles” Isso significa cumprir toda e qualquer lei, não só partes dela. “sinal entre Mim e eles” naturalmente está se referindo a Deus e aos judeus, não pode ser diferente. E para ser breve repare que o contexto claro e decididamente refere-se aos judeus, Ez. 20. 36-38 Como entrei em juízo com vossos pais, no deserto da terra do Egito, assim entrarei em juízo convosco, diz o Senhor Deus. Far-vos-ei passar debaixo do meu cajado e vos sujeitarei à disciplina da aliança; separarei dentre vós os rebeldes e os que transgrediram contra mim; da terra das suas moradas eu os farei sair, mas não entrarão na terra de Israel; e sabereis que eu sou o Senhor.”

E a época para quem foi direcionada essas palavras claramente se vê pelo contexto. Outro fato interessante é quando o verso diz que o sábado será um “sinal” (naturalmente está se referindo aos judeus) não está de modo nenhum dizendo que é uma marca como é dito em apocalipse 13. A palavra sinal de Ezequiel 20. 20 quer dizer marca distintiva, lembrança, advertência. Ap. 13. 16 A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte.”

Já a palavra grega para marca em apocalipse 13 é charagma e quer dizer marca impressa, algo esculpido, é a mesma palavra que é utilizada para gravar as marcas em escravos nos dias bíblicos. Como vimos acima E.G.W Argumenta e garante que o domingo como sendo o dia de guarda é a marca da besta, o oposto disso seria o sábado como sendo o selo de Deus. No entanto, surgem algumas questões pertinentes, questões essas que devem ser avaliadas.

Primeiramente devemos situar o nosso contexto, atualmente existe um número muito grande de ateus e outros irreligiosos os quais não estão se importando com dias religiosos, assim sendo esse grupo não estaria recebendo nem uma marca nem outra e isso contraria o que está escrito no livro do apocalipse 13. 16 onde é dito que a marca atingirá a todos, os pequenos e os grandes sem distinção. Outro argumento utilizado pelo meio adventista está baseado em 1ª Co. 2. 14 Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”
                              
Este pressuposto é utilizado baseado na alegação de que o sábado é a marca de Deus, alegam que aqueles contrários não são tidos como sendo espirituais pelo fato de não aceitarem tal interpretação. Mas, surge um problema se o selo de Deus é espiritual o da besta também não deveria ser? Sim, mais é, dizem eles. Ora se o selo da besta é espiritual, como pode alguém que não é espiritual receber uma marca espiritual? Existe um contra senso nesta afirmação. Por outro lado baseado na declaração de apocalipse onde é dito que a marca será algo visível impresso, não faz sentido afirmar dizendo que será uma marca espiritual principalmente pelo fato dos receptores não compreenderem o que se trata.

Os adventistas estão certos em afirmar que o dia bíblico e mesmo o sábado era observado de por do sol a por do sol, sabemos também que nos nossos dias, o dia é marcado de meia noite a meia noite, assim sendo o dia da semana seja ele qual for não serve para ser a marca da besta, ora baseado na informação de E.G.W não observar o sábado e isso de por do sol até o outro por do sol estará pegando a marca da besta, seria possível? Não! Posso muito bem não comprar no sábado e nem no domingo, existem os cinco dias da semana para poder comercializar.

Isso baseado na sua declaração de que quem observa o sábado tem o selo espiritual, não poderá nem comprar nem vender, ora se não existe nada dizendo ou identificando, o que impedirá alguém de comercializar? O simples fato de ser guardador do sábado? Vamos imaginar algum sabatista após o por do sol do sábado entrando em um estabelecimento comercial, segundo a contagem de por do sol a por do sol ele não estaria transgredindo o sábado, visto que para a mentalidade contemporânea ele esta negociando no dia de sábado, sim, o sábado só finda à meia noite...              
 
Assim sendo não faz sentido dizer que o sábado será o divisor, definindo quem irá ou não pegar a marca da besta. Não existe como parar o comercio, pelo simples fato da interrupção do fim de semana, outro fato interessante é que a bíblia diz que a marca será colocada na fronte ou na mão, assim sendo, como é ter uma marca espiritual fixada na mão? Em outras palavras como é ter o domingo “fixado” na mão?  


sábado, 1 de abril de 2017

Os gentios e a questão da impureza parte 2

O movimento adventista se orgulha em dizer que exclusivamente possui a mensagem de saúde, inclusive referem-se a tal mensagem (reforma de saúde) como sendo um anexo as três mensagens angélicas encontradas no livro do apocalipse capítulo 14. Para isso, valem-se das declarações de sua profetiza E.G.W. Assim sendo, a mensagem adventista ensina para os seus convertidos que a mensagem de saúde consiste em se voltar ao máximo para o vegetarianismo.

Primeiramente nós encontramos a seguinte declaração de E.G.W. No livro Conselhos Sobre Saúde, pág. 20 “A reforma da saúde é um dos ramos da grande obra que deve preparar um povo para a vinda do Senhor. Ela está tão estreitamente relacionada com a mensagem do terceiro anjo”. Em outro livro ela diz: “Os que têm sido instruídos com relação aos efeitos prejudiciais do uso da alimentação cárnea, do chá e do café, bem como de comidas muito condimentadas, e que estão resolvidos a fazer com Deus um concerto com sacrifício, não hão de continuar a satisfazer o seu apetite com alimentos que sabem ser prejudiciais à saúde”. Conselhos Sobre o Regime alimentar, pág. 381.

Baseado apenas nestas duas declarações de E.G.W. Podemos descrever que para ela a proibição por parte de Deus no AT. Com relação às carnes imundas, significa algo prejudicial à saúde dos judeus. Seria isso uma realidade bíblica? Não, a bíblia não faz diferenciação entre impurezas; por exemplo: não diz que a impureza dos animais era diferente de qualquer outra impureza, e isso nós veremos mais a frente.

Neste assunto não iremos entrar na questão das mensagens angélicas de apocalipse 14, o objetivo aqui é tratar um pouco mais, a respeito da impureza descrita na bíblia. Na atualidade nós somos sabedores que realmente existem determinados tipos de produtos relacionados como alimento, os quais são prejudiciais, entre eles podemos destacar: os refrigerantes e os embutidos, no entanto, na atualidade em se tratando de alimentação, o que na verdade não está contaminado? Em outras palavras, o que não é prejudicial?

No entanto, apesar da IASD. Fazer um trabalho de conscientização com respeito a esses tipos de produtos que ora temos como alimentícios, a ênfase, maior é dada com relação ao alimento cárneo, e as carnes ditas como imundas são as principais. A questão principal deste assunto a ser abordado é: estaria Deus instruindo o povo do AT. A não consumir determinadas carnes tidas por imundas por questão de saúde? Como dito acima, a bíblia não diferencia, por exemplo, a imundície relacionada ao porco com relação ao cadáver.

Se fizermos uma busca detalhada, veremos que a palavra imunda no hebraico é tame’ e não diz respeito à saúde, mais sim a questão religiosa, cerimonial, sexual. Ou seja, alguém poderia se poluir sexualmente, se corromper religiosamente, ou não estar puro, cerimonialmente. A palavra (tame’ imundo no hebraico) não quer dizer que determinadas carnes contém vermes e bactérias. Não estou defendendo nem mesmo incitando o consumo de carnes, seja ela de qual animal for, come quem quer.

Sabemos também que a carne de porco pode ser prejudicial para algumas pessoas, aqui no Brasil costumamos chamar este tipo de carne, de carne remosa, é um tipo de irritação que provoca alguns pruridos e urticárias, claro está que não são todas as pessoas que são propensas a este tipo de desconforto. O mesmo podemos dizer da carne bovina, algumas pessoas também são alérgicas e são impossibilitadas de consumi-la. No entanto, todas elas após o abate são propensas as bactérias, contudo, se cozidas adequadamente tais bactérias não serão prejudiciais. 

Dt. 7. 15 O Senhor afastará de ti toda enfermidade; sobre ti não porá nenhuma das doenças malignas dos egípcios, que bem sabes; antes, as porá sobre todos os que te odeiam.” É comum entre os adventistas dizerem que a saúde prometida por Deus advêm da obediência ao que eles entendem por leis de saúde, fica claro, no entanto, que a promessa de Deus está baseada na observância de toda a aliança, ou seja, seria uma bênção sobrenatural, e não simplesmente um resultado de uma dieta natural.

A questão do puro e impuro no AT. Vai muito além de comer ou não comer, por exemplo: Lv. 11. 39-40 Se morrer algum dos animais de que vos é lícito comer, quem tocar no seu cadáver será imundo até à tarde; quem do seu cadáver comer lavará as suas vestes e será imundo até à tarde; e quem levar o seu corpo morto lavará as suas vestes e será imundo até à tarde.” Naqueles dias mesmo um animal próprio para consumo não poderia ter o seu cadáver tocado, tocar em um animal considerado limpo é algo impróprio para a saúde? Na realidade a própria expressão, “imundo até a tarde” confirma  o mandamento cerimonial e exclui a questão da saúde.

 Outra questão que deve ser bastante enfatizada é a expressão hebraica para impuro e imundo, como vimos acima a palavra tame’ nos revela que não se trata de uma questão de saúde mais de impureza, não uma impureza interna, mais sim cerimonial. Is. 52. 1Desperta, desperta, reveste-te da tua fortaleza, ó Sião; veste-te das tuas roupagens formosas, ó Jerusalém, cidade santa; porque não mais entrará em ti nem incircunciso nem imundo.”  Isaías falou de algum judeu que estava com problemas de saúde? Não, ele se referiu aos judeus que não cumpriam os mandamentos e assim se tornavam impuros, impróprios, inadequados para participar da religião judaica.

Outro fato importante a ser lembrado é que a palavra de Isaías 52. 1 para imundo é a mesma para designar os animais impróprios para o alimento, é a palavra tame’. Lv. 11. 44 “Eu sou o Senhor, vosso Deus; portanto, vós vos consagrareis e sereis santos, porque eu sou santo; e não vos contaminareis por nenhum enxame de criaturas que se arrastam sobre a terra.”  Ao saírem da terra do Egito, o objetivo de Deus para o povo judeu é que eles fossem diferenciados, ou separados, santo no original.

Os animais representavam isso, limpos ou impuros, referindo-se aos judeus e gentios. Lv. 20. 26 “Ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus.”  Tanto é assim que os não judeus poderiam comer aquilo que para os judeus era proibido, Dt. 14. 21 “Não comereis nenhum animal que morreu por si. Podereis dá-lo ao estrangeiro que está dentro da tua cidade, para que o coma, ou vendê-lo ao estranho, porquanto sois povo santo ao Senhor, vosso Deus...” 


Se a questão da impureza alimentar estivesse relacionada a saúde, naturalmente Deus não iria permitir que os não judeus que habitavam em Jerusalém comessem de tais alimentos. Fato é que isso poderia se transformar em uma epidemia, e assolar até mesmo o povo da aliança.