quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Os "tempos" da salvação.

   Em um mundo materialista e relativista o termo salvação tem conotações puramente físicas e humanas, no entanto, para os que crêem e entendem tem outros processos e estes espirituais, e é neste segmento que iremos prosseguir.  Rm. 1. 16 Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego.”
   
  As palavras hebraicas e gregas para salvação implicam as idéias de livramento, segurança, conservação, cura e santidade. Salvação é a grande palavra inclusiva do Evangelho, reunindo em si todos os atos e processos redentivos: como justificação, redenção, graça, propiciação, imputação, perdão, santificação e glorificação. Salvação, portanto, no seu sentido amplo, tem a ver tanto com a vida presente bem como com a futura.

  Ela faz referência não só à remissão da penalidade do pecado e à remoção de sua culpa, mas também à conquista do hábito do pecado e a remoção final da presença do pecado no corpo. É só pelo reconhecimento disto que alguém pode agarrar o alcance completo da doutrina bíblica de salvação. Assim sendo, a bíblia expõe a palavra salvação em três tempos, veremos as passagens que classificam cada tempo.

 O TEMPO PASSADO DA SALVAÇÃO: Tito 3. 5 Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo.” Esta passagem e muitas outras nos falam da salvação como uma obra terminada no passado. Este tempo de salvação coincide com a santificação passada daquele que crê, com a remissão da penalidade do pecado, a remoção da culpa e mesmo a remoção da presença do pecado.

   Neste sentido a salvação está completa. Sendo assim, podemos dizer que este tempo da salvação é um ato e não um processo ocorreu antes da fundação do mundo Ef. 1. 4 Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor”. 2ª Tm. 1. 9 Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos.”
         
   E se materializa no momento em que o indivíduo crê; não admite graus nem estágios, esse é o processo. É sob este tempo de salvação que devemos entender as passagens que falam do crente como possuindo vida eterna agora. Jo. 5. 24 Em verdade, em verdade vos digo quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” 6. 47 Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna.” Podemos afirmar então, como dito nestes versos que aquele que crê está livre de todo perigo de condenação e do poder da segunda morte.

   O TEMPO PRESENTE DA SALVAÇÃO: 1ª Co. 1. 18 Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.” Outras traduções dizem: que estamos sendo salvos; Fl. 2. 12 Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor.” O sentido desta passagem é que os Filipenses tiveram de efetivar em suas vidas a nova vida que Deus implantara nos seus corações.
   
No tempo presente da salvação os crentes estão sendo salvos, através da obra do Espírito sendo materializado no hábito e domínio do pecado. A salvação é assim equivalente à santificação progressiva 2ª Co. 3. 18 E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.

  O TEMPO FUTURO DA SALVAÇÃO: Nas passagens seguintes a salvação é falada como algo ainda futuro: Rm. 5. 9 Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.” Rm. 13. 11 E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos.” 1ª Pe. 1. 5 Que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo.”
    
   Vamos voltar em Rm. 8. 23 E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.” Neste verso Paulo nos fala da salvação futura e total, a redenção de nosso corpo, esta salvação total e completa terá lugar na ressurreição dos que dormem em Cristo, 1ª Co. 15. 51-52 Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.”

   Este tempo de salvação está no futuro tem a ver com o corpo, e a anulação do pecado no corpo. E essas passagens podem juntamente ser classificadas juntas com outras que tratam da vida eterna como algo que os que crêem receberão no futuro. Mt. 25. 46 E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna.” Não há conflito entre estas passagens, pelo fato delas se referirem a diferentes fases da salvação. A pergunta a se fazer é: estamos salvos ou seremos salvos.

   A bíblia nos dá todas as possibilidades, no entanto devemos entender que a bíblia não só fala do tempo do homem, mas também do “tempo” de Deus. Assim sendo a nossa esperança de salvação deve estar baseada na salvação do tempo de Deus, ou que já estamos salvos. Mas tal salvação deve ser manifestada no tempo presente, em outras palavras dentro da nossa visão de mundo, neste caso, estamos sendo salvos.

   O processo de salvação do ponto de vista de Deus em nossas vidas se dá quando somos atraídos pela sua palavra, e apesar de sermos pecadores e relutantes sentimos prazer em Deus e em seus ensinamentos. Mas, o processo de salvação do ponto de vista humano é materializado com a santificação, Rm. 6. 22 Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna.”
      
  1ª Ts. 4. 7 porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação.” Do ponto de vista humano a salvação é diária, Se tal acontecimento se dá em nossas vidas, a salvação está em ocorrência, não podemos nunca nos esquecer que a salvação é um dom de Deus, que está sendo materializado em nossas vidas, mas devemos sempre estar atentos, percebendo sempre a sua manifestação. Mas isso não significa que não iremos pecar e nem mesmo que não seremos tendentes a fazê-lo. O fato de sermos tendentes ao pecado não é desculpa para a prática do mesmo, Gl. 5. 13 Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor.”

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Baal o deus da sujeira.


    A cidade de Ecrom foi uma das cinco cidades filisteias no sudoeste de Canaã. Era uma cidade na divisa da fronteira entre a Filístia e o Reino de Judá. Js. 13. 3 Desde Sior, que está defronte do Egito, até ao limite de Ecrom, para o norte, que se considera como dos cananeus; cinco príncipes dos filisteus: o de Gaza, o de Asdode, o de Asquelom, o de Gate e o de Ecrom. A prática do culto a Baal infiltrou na vida religiosa judaica durante o tempo dos juízes  Jz. 3. 7 Os filhos de Israel fizeram o que era mau perante o Senhor e se esqueceram do Senhor, seu Deus; e renderam culto aos baalins e ao poste-ídolo.”

   Tornou-se comum em Israel durante o reinado de Acabe 1ª Rs. 16. 31-32 “Como se fora coisa de somenos andar ele nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate, tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi, e serviu a Baal, e o adorou. Levantou um altar a Baal, na casa de Baal que edificara em Samaria.”  E também afetou Judá 2ª Cr. 28. 1-2  “Tinha Acaz vinte anos de idade quando começou a reinar e reinou dezesseis anos em Jerusalém; e não fez o que era reto perante o Senhor, como Davi, seu pai. Andou nos caminhos dos reis de Israel e até fez imagens fundidas a baalins.”

   Baal era considerado um deus da fertilidade que, de acordo com a crença comum, permitia que a terra produzisse colheitas e pessoas produzissem crianças. Diferentes regiões adoravam Baal de diferentes maneiras, e ele provou ser um deus altamente adaptável. Várias localidades enfatizavam um ou outro de seus atributos e desenvolveram vários nomes a baal. Baal-Peor Nm. 25. 3 Juntando-se Israel a Baal-Peor, a ira do Senhor se acendeu contra Israel.”

    Baal-Berite  Jz. 8. 33 Morto Gideão, tornaram a prostituir-se os filhos de Israel após os baalins e puseram Baal-Berite por deus.” Estes são apenas dois exemplos de divindades localizadas. O culto a Baal estava enraizado na sensualidade e envolvia prostituição ritualística nos templos. Às vezes, para apaziguar Baal necessitava o sacrifício humano, geralmente o primogênito de quem fazia o sacrifício Jr. 19. 5 E edificaram os altos de Baal, para queimarem os seus filhos no fogo em holocaustos a Baal, o que nunca lhes ordenei, nem falei, nem me passou pela mente.”
 
   Os sacerdotes de Baal apelavam ao seu deus em ritos selvagens que incluíam gritos de êxtase e ferimentos auto-infligidos 1ª Rs. 18. 28 E eles clamavam em altas vozes e se retalhavam com facas e com lancetas, segundo o seu costume, até derramarem sangue.” Todos estes versos relatam acontecimentos relacionados aos israelitas, quero dizer, um deus da cultura pagã passou a fazer parte da mentalidade religiosa dos judeus. Mas, ainda que a idolatria estivesse operante no meio da nação de Israel eles não viam tal ídolo como viram os judeus do tempo do NT.

   O erro de cultuar Baal no AT. Existiu, porém, tal “culto” não era direcionado ao demônio, assim como acreditavam os judeus nos dias do NT. Para os judeus do AT. O culto a um ídolo qualquer era direcionado a uma divindade inferior, Lv. 17. 7 “Nunca mais oferecerão os seus sacrifícios aos demônios, com os quais eles se prostituem; isso lhes será por estatuto perpétuo nas suas gerações.”  O original a palavra é sátiro que quer dizer animal peludo, bode por exemplo. O termo demônio só veio a aparecer em traduções posteriores.

   Os profetas, por exemplo, Ainda que cressem em deuses não os temiam, Sl. 136. 2 Rendei graças ao Deus dos deuses, porque a sua misericórdia dura para sempre.” O mesmo fez o profeta Elias no confronto com os sacerdotes de Baal, 1ª Rs. 18. 26-27 Tomaram o novilho que lhes fora dado, prepararam-no e invocaram o nome de Baal, desde a manhã até ao meio-dia, dizendo: Ah! Baal, responde-nos! Porém não havia uma voz que respondesse; e, manquejando, se movimentavam ao redor do altar que tinham feito. Ao meio-dia, Elias zombava deles, dizendo: Clamai em altas vozes, porque ele é deus; pode ser que esteja meditando, ou atendendo a necessidades, ou de viagem, ou a dormir e despertará.”

   Diferentemente no NT. Devido a influência grega os ídolos ou os deuses inexistentes das nações passaram a ser temido pelo povo judeu, não só pelo povo comum, mesmo a elite, os líderes da nação criam assim Mt. 9. 34 “Mas os fariseus murmuravam: Pelo maioral dos demônios é que expele os demônios.”  Mesmo antes de Cristo a mitologia cananeia advertia sobre os cuidados que se devia ter após o corte de unhas e cabelos, pois uma vez cortados e separados do corpo, já pertencem ao maligno.

   Maligno esse conhecido por demônio mosca, e outras devas de espíritos maléficos, pelo fato mesmo de serem moradas da sujeira. Neste sentido na mesma mitologia cananeia, se adorava a Baal-Zebub, que segundo muitos significava “Baal, do estrume das moscas”. Mt. 12. 24 “Mas os fariseus, ouvindo isto, murmuravam: Este não expele demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios.” Jesus foi acusado pelos fariseus de expulsar demônios pelo poder de Belzebu, Mt. 10. 25Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?”

   Lc. 11. 21 Quando o valente, bem armado, guarda a sua própria casa, ficam em segurança todos os seus bens.” Reparem que no contexto da acusação dos fariseus Jesus usou várias vezes a palavra casa, lembrando também que a palavra Belzebu significa senhor da casa. E neste jogo de palavras Jesus leva os seus ouvintes a perceberem que Belzebu na verdade é apenas o deus das moscas o deus da mitologia que mora na sujeira.

   Lc. 11. 24-26 “Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos, procurando repouso; e, não o achando, diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, tendo voltado, a encontra varrida e ornamentada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem se torna pior do que o primeiro. Saindo do homem, o espírito imundo perambula por lugares áridos... Chegando lá encontra a casa varrida e arrumada, (o que debilitaria as forças de baal-zebub).

   Diante disso, vai e toma outros sete espíritos piores do que ele, os quais vai habitar na casa, e (acumulam tanta sujeira) que com isso a condição daquele torna-se pior do que antes. Tanto na bíblia quanto na literatura rabínica e apócrifa, como também na cultura tradicional cristã que apresentam os demônios habitando desertos, lugares áridos, ruínas de casas abandonadas e lugares imundos como esgotos e cemitérios. Na verdade isso é um reflexo da mitologia pagã que adentrou no judaísmo. No entanto quando Cristo fez eco dessas crenças populares, emprestadas do paganismo, evidentemente que não pretendia confirmar a fábula, senão dar à sua argumentação um cunho pitoresco e bem humorado.